Quem nunca brincou de “escolinha” na infância? A experiência que vivemos nessa fase da vida, nas escolas, faz parte da formação de todos nós (ou pelo menos deveria fazer). Passamos os nossos anos iniciais em ambientes escolares e gostávamos de brincar simulando uma sala de aula e repetindo os gestos que víamos nossos mestres fazerem.
Nesse sentido, a maneira como as pessoas entendem o que significa ensinar e aprender fica, muitas vezes, fundamentado nessas experiências vividas como alunos. Nossas crenças e conceitos sobre o que significa o processo de ensino-aprendizado são embasados por situações, as quais vivenciamos em idade escolar. É por esse motivo que se acredita que basta conhecer muito bem um conteúdo para se ter a competência de ensiná-lo.
A questão não é tão simples assim porque, ensinar para alguém aprender, envolve processos cognitivos complexos; quem ensina deve se aprofundar nas teorias e abordagens que a ciência da Educação vem nos apresentando. Podemos destacar uma certa dificuldade de alguns profissionais dessa área em compreender conceitos básicos como educação, ensino, aprendizagem e instrução.
Os educadores que se apropriam do conhecimento sobre as abordagens teóricas da aprendizagem, serão capazes de atender com maior competência as necessidades dos seus alunos. Se não fosse assim, de que valeriam os cursos de graduação e pós-graduação para a Docência?
O processo de ensino-aprendizagem é explicado por várias teorias, construídas a partir de estudos científicos da ciência da Educação, isto é, de concepções epistemológicas. Podemos dizer que a Educação se refere à formação e ao desenvolvimento das pessoas, ou seja, é o processo que nos faz avançar, ir além do conhecido e reconstruí-lo, nos transformando a cada novo conhecimento adquirido.
Portanto, para sermos o mediador desse processo, entre aquele que vai aprender e aquele que vai ensinar, é preciso entender como isso acontece e conhecer o que é e como funciona o processo cognitivo. Como já dissemos, são várias as teorias que nos explicam o ensino-aprendizado. Umas bem antigas e tradicionais e outras mais recentes, que resultaram das novas formas de produzir, registrar e compartilhar o conhecimento, utilizando as tecnologias de informação e comunicação – as TICs.
O modelo tradicional de ensino centrado na atuação do professor e na transferência de informações se mantém, até hoje, apesar da grande mudança do acesso ao conhecimento. A internet e os dispositivos tecnológicos – notebooks, tablets, smartphones etc. – permitiram uma virada de 360º. na forma como aprendemos. O que não significou a adequação e a mudança das práticas pedagógicas de vários seguimentos educacionais.
As concepções epistemológicas: a origem das abordagens teóricas da aprendizagem iniciaremos falando sobre a relação entre o sujeito aprendente – aquele que conhece – e o objeto a ser conhecido – o conhecimento. É exatamente essa relação que as concepções teóricas buscam explicar.
Essas teorias sobre a aprendizagem se baseiam em visões de mundo e concepções sobre o ser humano, na sua forma de vida em sociedade (relações e cultura), nos fins que essa sociedade estabelece para a Educação do seu povo (o que, como, porque e para que ensinar). Nesse sentido, as teorias de aprendizado não são estanques, elas acompanham todas as transformações do comportamento social e se transformam à medida que as necessidades da sociedade mudam e que as mídias e tecnologias avançam.
Usaremos as explicações de Mizukami (1986), sobre as três vertentes epistemológicas que deram origem às várias abordagens teóricas da aprendizagem: O empirismo, o nativismo e o interacionismo.
Segundo a autora, o empirismo se baseia na ideia de que o conhecimento se constrói pela experiência humana, isto é, por meio dos nossos sentidos em contato com o objeto a ser conhecido. Nas palavras de Mizukami (1986): “[…] o conhecimento se baseia na experiência humana e é adquirido por meio daquilo que se aprende pelos sentidos tradicionais (visão, audição, tato, olfato e paladar) e por sentidos internos (memória, sentimentos etc.).”
Nessa concepção conhecida como empirismo, o conhecimento é o resultado de algo externo ao sujeito aprendente, atuando de fora para dentro, sendo preciso que haja o contato com o objeto a ser descoberto. Nessa base epistemológica se fundamentaram as teorias de aprendizagem conhecidas como: pedagogias tradicionais, positivistas e condutivistas.
O nativismo explica o processo de aprendizagem oposto ao empirismo. Para os nativistas o conhecimento não se constrói de fora para dentro, mas o ser humano possui categorias de conhecimento adquiridas na sua relação com o meio em que nasceu e de onde recebeu estímulos sensoriais, internalizados. Nesse sentido, para aprender, o ser humano utiliza o que já tem de hereditário e no processo de contato com o novo, forma novas estruturas interiores de conhecimento, conforme vem nos explicar Mizukami(1986): […] “o ser humano possui a priori categorias de conhecimento já prontas para as quais toda estimulação sensorial é canalizada. Dessa maneira, a percepção sobre o objeto é construída pelo sujeito na sua relação com o meio”. Baseando-se nesses princípios surgiram as teorias das pedagogias interpretativas e do cognitivismo.
Uma outra concepção epistemológica que se apresenta como uma síntese do empirismo e do nativismo é a chamada interacionismo. Essa teoria apresenta uma explicação sobre a aprendizagem levando em consideração tanto o conhecimento existente no interior do sujeito como a sua interação com o meio em que vive. Ou seja, a aprendizagem é um processo constante das relações entre os processos internos e o ambiente externo. Nas palavras de Filatro (2015):
o interacionismo configura-se como uma síntese das duas vertentes anteriores, assumindo uma relação dinâmica entre a bagagem genética hereditária e a adaptação do sujeito ao meio. Nesse sentido, o conhecimento não depende isoladamente de uma realidade externa preexistente ou do aparato cognitivo do sujeito. Ao contrário, é da interação entre esses dois elementos que se faz a passagem de um nível de compreensão para outro. Do ponto de vista pedagógico, a ênfase está em atividades do sujeito em sua interação com o mundo físico e social. Assim, o processo de ensino-aprendizagem é uma construção contínua de conhecimento.
O interacionismo trouxe um novo olhar para as práticas pedagógicas de modelo progressista. As teorias baseadas no interacionismo – pedagogias construtivistas e as pedagogias críticas – permitiram aos educadores colocar um novo elemento nessa dinâmica do processo de aprendizagem, que é o elemento “cultura”. Nesse sentido, abriu-se um novo leque de estudos sobre como o ser humano aprende, dando lugar às metodologias mais adequadas às necessidades de cada sujeito aprendente.
Os professores e professoras, no seu trabalho docente diário, aplicam metodologias que lhes parecem fazer sentido. Mesmo sem muito conhecimento das abordagens teóricas da aprendizagem, o tempo todo eles estão utilizando teorias e modelos aqui apresentados. Porém, é preciso que os profissionais do ensino se aprofundem nos seus conhecimentos teóricos sobre o processo de aprendizagem porque a prática não se sustenta sem a teoria e vice-versa.
No próximo texto, vamos nos aprofundar nas teorias da aprendizagem baseadas no empirismo: as pedagogias tradicionais, positivistas e condutivistas.
Aprofunde-se no tema assistindo o vídeo que preparei para você: https://youtu.be/z6ieQCyt1q8
Até a próxima!
Solange Padilha
Referências
FILATRO, Andrea. Produção de conteúdos educacionais. São Paulo: Saraiva, 2015.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.